A fusão entre Petz e Cobasi, oficializada após a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em 2 de junho de 2025, cria a maior companhia do setor pet no Brasil, com faturamento estimado em 7 bilhões anuais. O negócio, anunciado em agosto de 2024, reúne duas gigantes e altera o equilíbrio do mercado de produtos e serviços para animais de estimação.
A nova empresa conta com 494 lojas em mais de 140 cidades e projeta sinergias de até 330 milhões de reais nos próximos três anos. Embora o Cade tenha concluído que a operação não compromete a concorrência, entidades do setor e associações de distribuidores apontam para riscos de concentração de mercado. Para pequenos e médios lojistas, a fusão pode significar maior dificuldade para competir e pressão sobre margens já apertadas.
Efeitos para os pequenos negócios
O setor pet brasileiro movimentou cerca de 33,5 bilhões em 2023, sendo que a maior parte desse valor veio de pequenos pet shops espalhados pelo país. São estabelecimentos que dependem de relacionamento direto com o cliente e operam com margens reduzidas. A formação de uma gigante com abrangência nacional aumenta o poder de negociação junto a fornecedores e pode levar a promoções agressivas, tornando mais difícil a sobrevivência das lojas de bairro.
Levantamento da Receita Federal mostrou que, em 2024, 518 pet shops fecharam em 331 municípios, antes mesmo da fusão ser concluída. Com o novo cenário, entidades como a Andipet, que representa 64 distribuidores, alertam que a tendência de fechamento pode se intensificar, especialmente em cidades menores e regiões onde as grandes redes começam a avançar.
Campanha contra a concentração
O Instituto Caramelo lançou em 23 de julho de 2025 a campanha #NãoAoMonopólioPet, com o objetivo de chamar atenção para os impactos da fusão no acesso a produtos básicos e no cuidado com os animais. A ONG teme que o aumento de preços em rações e medicamentos leve a um crescimento no número de abandonos. Segundo a entidade, 74% das famílias brasileiras têm pets e a elevação de custos pode comprometer a manutenção de cuidados essenciais.
A mobilização ganhou adesão de tutores, veterinários e comerciantes, reforçando o debate sobre o papel dos pequenos negócios na sustentação do setor. A preocupação central é que uma concentração excessiva de mercado reduza a diversidade de canais e afete a competitividade, diminuindo o espaço para quem não tem escala para negociar preços mais baixos.
Contestação da Petlove
A Petlove, terceira maior varejista do segmento, entrou com recurso no Tribunal do Cade questionando a operação. A empresa argumenta que a fusão cria um cenário de dominância em 155 de 208 mercados físicos e aumenta a concentração no varejo online. O julgamento do recurso está previsto para agosto de 2025 e pode redefinir as condições para a integração das duas redes.
Estudos independentes projetam que, em cidades fora dos grandes centros, produtos como rações e acessórios podem ter aumentos de até 5% nos próximos anos. Para lojistas locais, a possibilidade de perder competitividade frente a promoções nacionais e o acesso restrito a fornecedores são riscos imediatos.
Resposta de Petz e Cobasi
As empresas afirmam que a fusão trará benefícios para consumidores e animais, citando a possibilidade de reduzir preços e ampliar a cobertura nacional. Em comunicado, Petz e Cobasi destacaram que a decisão do Cade considerou a presença de marketplaces, supermercados e milhares de pet shops independentes, o que manteria o mercado competitivo. As redes também ressaltaram seus programas sociais e de adoção, argumentando que a operação pode fortalecer iniciativas de bem-estar animal.
Perspectivas para o setor
Com a decisão final sobre o recurso ainda em análise, o setor pet vive um momento de transição. Especialistas recomendam que pequenos lojistas invistam em diferenciação por serviços, como banho, tosa e consultoria nutricional, para fidelizar clientes e se manter competitivos frente à nova realidade. A fusão Petz-Cobasi simboliza uma mudança estrutural no varejo pet brasileiro, criando uma gigante sem precedentes e levantando questionamentos sobre o futuro dos milhares de negócios que compõem a base do mercado.