No Brasil, cães de serviço começam a conquistar mais espaço e visibilidade em áreas como acessibilidade, segurança pública, saúde e resposta a emergências. Esses animais são treinados para executar tarefas específicas que ampliam a autonomia, o bem-estar e até salvam vidas humanas. Ainda assim, a presença desses profissionais de quatro patas no país está longe de atender à demanda.
Os cães de serviço englobam diferentes perfis: cães-guia, cães de assistência, cães de terapia, cães policiais e cães de resgate. Em comum, todos passam por longo treinamento, geralmente de até dois anos, exigindo preparo físico, emocional e comportamental. Apesar dos avanços pontuais, especialistas e instituições apontam gargalos na formação, regulamentação e acesso aos cães por parte da população que mais precisa deles.
Mobilidade com autonomia: o desafio dos cães-guia
Os cães-guia são fundamentais para a locomoção de pessoas com deficiência visual. Com treinamento específico, aprendem a desviar de obstáculos, parar diante de escadas, identificar portas e conduzir o tutor com segurança por ambientes urbanos. Mesmo amparada por lei federal, que garante o acesso desses cães a locais públicos e privados, a realidade ainda é de escassez.
Estima-se que menos de 300 cães-guia estejam em atividade no Brasil, um número irrisório diante da população com deficiência visual. O principal entrave está na estrutura: o país possui poucos centros habilitados a formar esses animais, o que limita o alcance da política de inclusão que eles representam. Além disso, o custo elevado e a manutenção contínua tornam a escala ainda mais difícil.
Segurança pública: faro treinado contra o crime
Cães farejadores estão presentes em batalhões e operações de fronteira, onde atuam no combate ao tráfico de drogas, armas e explosivos. As polícias militares, civis e federal mantêm unidades com raças como pastor belga malinois, pastor alemão e labrador, treinadas para localizar substâncias, perseguir suspeitos ou apoiar missões de risco.
Com um olfato dezenas de vezes mais sensível que o humano, os cães policiais são capazes de identificar materiais escondidos em compartimentos subterrâneos, veículos ou bagagens. Além do faro, também participam de patrulhas, abordagens e contenções, reforçando o aparato de segurança pública de maneira eficaz e muitas vezes insubstituível.
Saúde e bem-estar: cães que confortam e motivam
Em hospitais, lares e instituições de apoio, cães de terapia vêm sendo usados para ajudar na recuperação emocional e física de pacientes. As chamadas terapias assistidas por animais têm respaldo científico: estudos mostram redução do estresse, melhora do humor, estímulo à comunicação e até queda da pressão arterial após interações com cães.
Apesar de iniciativas isoladas bem-sucedidas, a prática ainda é pouco difundida no país. O avanço depende de regulamentação e da formação de equipes multidisciplinares, além do cuidado com o bem-estar dos próprios animais envolvidos. Em alguns estados, secretarias de saúde e universidades começam a incluir a modalidade em programas de humanização hospitalar.
Apoio funcional: cães de assistência para outras deficiências
Além da deficiência visual, pessoas com mobilidade reduzida, deficiência auditiva, epilepsia, autismo ou diabetes também podem ser beneficiadas por cães de assistência. Esses animais aprendem a abrir portas, buscar objetos, alertar sobre sons e até identificar alterações fisiológicas que antecedem crises médicas.
No Brasil, no entanto, ainda não existe uma política pública ampla para a formação e distribuição desses cães. Projetos em debate no Congresso preveem a criação de um cadastro nacional, centros regionais de treinamento e incentivos à adoção desses programas, mas o cenário atual ainda é de acesso restrito e pouco conhecido.
Resgate e salvamento: atuação decisiva em desastres
Cães de resgate são treinados para localizar vítimas soterradas, perdidas em matas ou presas em estruturas colapsadas. Utilizados por unidades do Corpo de Bombeiros e equipes de defesa civil, esses animais operam em ambientes hostis e com rapidez superior à de qualquer tecnologia atual.
Alguns estados brasileiros já desenvolveram protocolos avançados para o uso desses cães, com certificações baseadas em padrões internacionais. Em grandes tragédias recentes, eles foram determinantes para encontrar sobreviventes e, quando isso não foi possível, ajudar famílias a obter respostas sobre desaparecidos.
Um recurso valioso, ainda pouco explorado
Apesar de sua eficácia comprovada, os cães de serviço ainda enfrentam limitações no Brasil. Faltam investimentos, centros de formação e campanhas de conscientização sobre os direitos desses animais e de seus tutores. Também é necessário discutir o pós-carreira dos cães: muitos se aposentam por volta dos oito anos de idade e dependem da adoção por seus condutores ou famílias voluntárias.
Investir na estruturação de políticas para cães de serviço significa ampliar inclusão, segurança, saúde pública e resposta a emergências. Eles não substituem profissionais humanos, mas os complementam com habilidades únicas — reforçando uma parceria milenar que segue atual e indispensável.